terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

DOJÔ-KUN = FILOSOFIA DO KARATÊ-DO

Hitotsu-jinkaku kansei ni tsutomuru koto
Primeiro-Esforçar-se para a formação do caráter.


Hitotsu-makoto no michi o mamoru koto
Primeiro-Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão.


Hitotsu-do ryoku no seishin o yashinau koto
Primeiro-Cultivar o intuito do esforço.


Hitotsu-reigi o omonzuru koto
Primeiro-Respeito acima de tudo.


Hitotsu-keki no yu o imashimeru koto
Primeiro-Conter o espírito de agressão.


Quando você lê o Kun (mandamentos) provavelmente notará algo.
Cada linha começa com primeiro, porque? Por que não segundo, terceiro, quarto e quinto?
O mestre Funakoshi entendia que nenhum item do Kun fosse mais importante que o outro. Por isso, cada item foi numerado como sendo o primeiro.

HUMILDADE X OBEDIÊNCIA CEGA

Olá pessoal… Quero tratar aqui de um assunto um tanto complexo dentro desta arte marcial. Um tema que talvez seja a essência do karatê: Humildade. Pois bem. O que seria a humildade? Ao meu ver a humildade seria olharmos para nós mesmos antes de olhar para os outros, admitir nossos erros antes de ver os de nossos irmãos. Mas existe algo que se distancia e muito da humildade. Quantas vezes não vemos em filmes com temas de artes marciais(principalmente os mais antigos) a obediência cega de discípulos para com seus mestres? Alguns poderiam até dizer que isso é humildade. Mas não é. Isso é puro fanatismo.
Muitas vezes somos taxados de rebeldes por questionarmos certas coisas… Nos vem aos ouvidos afirmações e repreensões tais como: “Seja humilde”, “Isso não é atitude de um bom karateca”. Agora eu pergunto: Ser fantoche dos pensamentos alheios é correto? Deixar a voz de nosso espírito aprisionada é o certo? Eu mesmo tenho a resposta. Não!!! Somos seres humanos pensantes, temos a capacidade de discernir o certo do errado. Se vemos o erro e não nos expressamos, sufocamos nosso espírito. Ver o erro e permitir que ele persista é apoiá-lo. Vivemos num país democrático, onde todos tem o direito de dizer o que pensam. Então, aproveitem esse direito. Não se calem e estremeçam diante de alguém só porque essa pessoa tem na cintura uma faixa preta. Respeito é necesário. Obediência cega é desprezível. Devemos saber até que ponto nossa liberdade não é afetada, e nos tornarmos céticos a partir daí. Devemos ter em mente que nosso espírito é como um cavalo selvagem. A partir da hora que ele é domado, perde sua liberdade.
Concluindo. A mensagem que quero deixar aqui é que respeitem os mais graduados dentro do dojo, mas cuidado para não serrem privados de vossa liberdade, pois ela é um dos bens mais valiosos que podemos ter na vida.
Oss…

LENDA DO HEIAN SHODAN

“Diz a lenda que um mestre de karatê-do em suas andanças numa noite de lua cheia pressentiu no chispar dos galhos secos, ao transpor numa clareira na mata, a presença do mal. São salteadores armados, em tocaia. Seu instinto guerreiro e defensivo o põe em Kamae, atitude de luta. Está imóvel. Abdômem contraído, punhos cerrados. Atento, olhando nada e vento tudo. Altamente concentrado, espírito vivo e aguçado. Vai lutar ! Seu repudio ao mal, seu Kimono intocável, sua honra, seu nome e sua vida, tudo está simbolizado no Kamae. Sua mente visualiza ao longe, num halo de luz, seu velho mestre, que em atitude de ZEN inspira-o. Suas sábias palavras de ensinamento ecoam ainda: “ANTES QUE LHE TOQUEM A PELE, TOCA-LHES OS OSSOS”. Inconscientemente curva-se reverente e brada: “OSS”. É atacado ! Pela esquerda, brilha a lamina. Consciente e veloz bloqueia e ataca com kime. As suas costas, um segundo de lança em riste. Bloqueia firme e forte. Ele sabe que “DEVE ENFRENTAR O ADVERSÁRIO, MAS, NUNCA SEU ATAQUE”. Está na base zen-kutsu e defesa guedan-barai. Seguro pelo punho, recolhe girando o braço e golpeia no ombro com martelo tate-tetsui-uchi. Completa com um soco (oi-zuki) fundo e seco, tirando toda chance do agressor. Da esquerda em pé sibila. É o terceiro agressor. Como um raio, um bloqueio guedan-barai. Quase simultaneamente um bastão corta o ar cobrindo a lua várias vezes. O inimigo bate recuando de cima para baixo. As defesa são age-uke protegendo a cabeça, a terceira mais rápida e mais funda, a fim de partir o braço na altura do cotovelo. Nesse golpe o mestre emprega toda sua força e toda sua velocidade. Solta um grito do fundo de suas entranhas; um grito de guerra num berro de morte: “É o KIAI”. Nada o Detêm. Há uma transformação total no corpo e no espirito. A mutação de força em poder; de massa em energia, de água em fogo. Estar possuido de KIAI é despertar a ARMA MORTAL DA POMBA ENFURECEIDA, o KARATÊ-DÔ. Silêncio na mata. Passa a perplexidade. É atacado pela direita. O mestre gira o campo de luta, defende e ataca. O instinto vira-lhe a cabeça quando pelas costas o primeiro atacante insiste com a faca. Suas pernas trocam de direção da base. Rolando seus quadris como um eixo, seus braços tal uma espada – acompanhando o impulso do corpo – descem em diagonal. No momento do contato dos “UDES”, um acréscimo de velocidade e torção desarma o adversário. Antes que tente recuar é alcançado com oi-zuki. O terceiro ergue-se a sua esquerda estocando-lhe com um bastão, recebe um gedan-barai e um oi-zuki andando; como resiste mais dois oi-zuki, sendo o segundo com KIAI. O KIAI dá-lhe firmeza, força e resolução de parar o adversário. Em Karatê-do, não há meia defesa, nem meio ataque. Desesperado o da esquerda bate com a lança da direita para esquerda de fora para dentro e vice-versa. O mestre gira em base ko-kutsu e com dois cutelos (shuto-uke) parte a arma. O Último imita a agressão e sente no poder das mãos em forma de faca, a devassar a mata ao redor, o poderio do Karate-do. A luta chega ao fim. Por um instante mantém-se imóvel na última defesa. Volta a postura inicial de kamae. Lembra seu senpai em sua posição de ZEN e procura-o. Em vão; já não consegue vê-lo mais. Isto é KATA, é ZEN, é KARATÊ-DO!”

SIGNIFICADO DO KIAI

O kiai ou “grito de força” – KI: força e AI: grito – é uma energia que nasce a partir do baixo ventre (saika tanden – aproximadamente cinco centímetros abaixo do umbigo). Todos têm um grito de força, principalmente os grandes felinos. Geralmente, esses animais paralisam suas presas com o seu kiai antes de atacá-las. O kiai pode ser aplicado em três momentos.
1-No início de uma atividade;
2-Durante a realização desta tarefa;
3-Final de um trabalho;
Os gritos de guerra servem para aumentar, acelerar e expor a força de ação do homem. Portanto, podem ser aplicados contra incêndios, vendavais e as fortes ondas marítimas para criar coragem e energia para enfrentá-los. Na luta individual, para colocar o adversário em movimento, o grito antecipa seus golpes e, em seguida, pode se aplicar chutes e socos. Não é necessário utilizar o grito simultaneamente com seus golpes. No decorrer da luta, ele servirá para incentivar e colocar numa situação vantajosa, sendo forte e profundo. Tomar precaução ao gritar, pois se o grito for usado fora de ritmo ou de tempo ou em ocasiões impróprias poderá surgir como contra-efeito, tornando-se prejudicial. No Japão há a prática do Kiai Do – caminho do grito da força – onde o praticante chega a ter medo do próprio grito.

OS VINTE MANDAMENTOS DE GICHIN FUNAKOSHI

I- "O karatê começa e termina com o cumprimento": Símbolo do respeito mútuo. O cumprimento também é um símbolo de cortesia e gratidão ao professor; ao fundador; ao Dojô; aos praticantes e ao próprio karatê. Tudo isso nos tornará mais sociáveis e serviremos melhor a sociedade.


II- "Nunca se faz o primeiro ataqueno karatê (karatê Ni Sente Nachi)": Essa frase se encontra na lápide do professor Funakoshi e quer dizer que o karatê não é um meio de ferir e nem provocar danos.


III- "O karatê e retidão": A intenção deve ser boa; deve ser justa.


IV- "Conheça si mesmo para conhecer os outro": Devemos conhecer os nossos pontos fortes e fracos...Assim, conheceremos aos outros.


V- "No karatê o espírito e mais importante que a técnica física": O desenvolvimento físico tem limites, enquanto o mental não o tem. KI SHIN TAI, expressa a necessidade de uma boa união entre espírito, mente e corpo para o desenvolvimento do karateca.


VI- "O karatê e lealdade e espontaneidade": O espírito e a mente devem ser inalteráveis, junto com um coração limpo, fará com que as intenções se apresentem sem medos nem temores, e nossas reações e ações serão boas e adequadas a cada momento.


VII- "O karatê ensina que as adversidades golpeiam quando a desistência": Caiu sete vezes, levanta oito. Nunca desistir.


VIII- "O karatê não se vive somente no Dojô": O karatê deve ser uma forma de vida, deve estar no nosso pensamento sempre; e um modo de comportamento correto; uma forma de ser e agir; um conjunto de valores e intenções. Deve pensar com o espírito do karatê em qualquer coisa da vida.


IX- "O karatê e uma norma para toda a vida": O objetivo do karatê não está em chegar, mais sim em percorrer o caminho. O karatê é um caminho e não um fim, por isso, não se trata de chegar em nenhum lugar. Desta maneira, desfrutaremos o karatê até o último minuto da nossa vida.


X- "O karatê toma como exemplo a natureza": A potência e a estabilidade das montanhas; a adaptabilidade dos canaviais enfrentando os vento; a mudança de direção das águas enfrentando as pedras para seguir avançando; o deslocamento dos animais, seus ataques. O culto do karatê com a natureza, tanto físico quanto espiritual. A natureza é sábia, nos ensina tudo, se quisermos aprender.


XI- "O karatê e como água fervente, se o fogo abaixa,ele esfria": Os valores internos espirituais não devem sofrer variações. Uma vez entendido o karatê na sua profundidade, deve ser mantido com o fogo da alma.


XII- "O karatê não é vencer, mais a idéia de não perder": Não devemos temer o adversário por sua reputação ou força; respeitá-lo sim, porém aceitar a derrota antes da luta, não. Que ele nos derrote, porém não nos derrotemos sozinhos. Pensar em ganhar, com a precaução e não com excesso de confiança.


XIII- "A atitude em função do inimigo": Devemos estudar o adversário e agir consequentemente. Segundo a estatura corpulência, movimentação, velocidade, intenção, etc... Conforme o nosso nível e condições, devemos agir inteligentemente e enfrentá-lo. A estratégia e a tática servem para qualquer tema da vida.


XIV- "O segredo do combate está em diferenciar o verdadeiro do falso": Continuamente recebemos estímulos, ataques verdadeiros e falsos. Devemos saber diferenciar através da nossa intuição e experiência, como contra-atacar. Devemos impor a nossa tática; devemos dirgir e não ser dirigidos.


XV- "Moldar o corpo transformando-o em uma arma": Encontrar o adversário com dignidade e derrotá-lo com força.


XVI- "Quando sais de casa, um milhão de inimigos te esperam": Muitos são os perigos que nos circudam, deve-se estar sempre alerta e atento. Lembrar que qualquer negligência pode levar ao fracasso.


XVII- "O karatê mantém sempre a posição de guarda (kamae). A posição natural Shizentai é para os níveis adiantados": No princípio o kamae é a posição adotada pelos principiantes, sendo forte e concentrada. A posição Shizentai (natural) é mais rápida, permite movimentos mais lógicos é naturais, mas depois de muito treinamento.


XVIII- "O kata é o aprimoramento do estilo, o kumite é diferente": O kata desenvolve certas qualidades para o combate, porém são coisas diferentes. O kata tem personalidade por si mesmo, no kata a distância entre dois oponentes (ma-ai) e a agressão não existe.


XIX- "Não parar de variar ritmos e técnicas": Como o arco, o karateca deve ter contração, expansão, velocidade, relaxamento, concentração e suavidade. Variando continuamente será mais difícil que percebam as nossas intenções. Se surpreendermos continuamente, tudo nos será mais fácil.


XX- "O espírito deve sempre almejar o nível mais alto": Devemos nos adaptar as coisas para superar os desafios. Nunca procure as coisas fáceis, construa-se com cimento forte (kihon).