terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

LENDA DO HEIAN SHODAN

“Diz a lenda que um mestre de karatê-do em suas andanças numa noite de lua cheia pressentiu no chispar dos galhos secos, ao transpor numa clareira na mata, a presença do mal. São salteadores armados, em tocaia. Seu instinto guerreiro e defensivo o põe em Kamae, atitude de luta. Está imóvel. Abdômem contraído, punhos cerrados. Atento, olhando nada e vento tudo. Altamente concentrado, espírito vivo e aguçado. Vai lutar ! Seu repudio ao mal, seu Kimono intocável, sua honra, seu nome e sua vida, tudo está simbolizado no Kamae. Sua mente visualiza ao longe, num halo de luz, seu velho mestre, que em atitude de ZEN inspira-o. Suas sábias palavras de ensinamento ecoam ainda: “ANTES QUE LHE TOQUEM A PELE, TOCA-LHES OS OSSOS”. Inconscientemente curva-se reverente e brada: “OSS”. É atacado ! Pela esquerda, brilha a lamina. Consciente e veloz bloqueia e ataca com kime. As suas costas, um segundo de lança em riste. Bloqueia firme e forte. Ele sabe que “DEVE ENFRENTAR O ADVERSÁRIO, MAS, NUNCA SEU ATAQUE”. Está na base zen-kutsu e defesa guedan-barai. Seguro pelo punho, recolhe girando o braço e golpeia no ombro com martelo tate-tetsui-uchi. Completa com um soco (oi-zuki) fundo e seco, tirando toda chance do agressor. Da esquerda em pé sibila. É o terceiro agressor. Como um raio, um bloqueio guedan-barai. Quase simultaneamente um bastão corta o ar cobrindo a lua várias vezes. O inimigo bate recuando de cima para baixo. As defesa são age-uke protegendo a cabeça, a terceira mais rápida e mais funda, a fim de partir o braço na altura do cotovelo. Nesse golpe o mestre emprega toda sua força e toda sua velocidade. Solta um grito do fundo de suas entranhas; um grito de guerra num berro de morte: “É o KIAI”. Nada o Detêm. Há uma transformação total no corpo e no espirito. A mutação de força em poder; de massa em energia, de água em fogo. Estar possuido de KIAI é despertar a ARMA MORTAL DA POMBA ENFURECEIDA, o KARATÊ-DÔ. Silêncio na mata. Passa a perplexidade. É atacado pela direita. O mestre gira o campo de luta, defende e ataca. O instinto vira-lhe a cabeça quando pelas costas o primeiro atacante insiste com a faca. Suas pernas trocam de direção da base. Rolando seus quadris como um eixo, seus braços tal uma espada – acompanhando o impulso do corpo – descem em diagonal. No momento do contato dos “UDES”, um acréscimo de velocidade e torção desarma o adversário. Antes que tente recuar é alcançado com oi-zuki. O terceiro ergue-se a sua esquerda estocando-lhe com um bastão, recebe um gedan-barai e um oi-zuki andando; como resiste mais dois oi-zuki, sendo o segundo com KIAI. O KIAI dá-lhe firmeza, força e resolução de parar o adversário. Em Karatê-do, não há meia defesa, nem meio ataque. Desesperado o da esquerda bate com a lança da direita para esquerda de fora para dentro e vice-versa. O mestre gira em base ko-kutsu e com dois cutelos (shuto-uke) parte a arma. O Último imita a agressão e sente no poder das mãos em forma de faca, a devassar a mata ao redor, o poderio do Karate-do. A luta chega ao fim. Por um instante mantém-se imóvel na última defesa. Volta a postura inicial de kamae. Lembra seu senpai em sua posição de ZEN e procura-o. Em vão; já não consegue vê-lo mais. Isto é KATA, é ZEN, é KARATÊ-DO!”

Um comentário:

  1. De onde foi retirado esse maravilhoso conto? É de algum livro? Se sim, qual? Obrigado. Oss.

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